Motorista por aplicativo em Belém: ganhos, riscos e desafios da profissão
A profissão de motorista por aplicativo no Brasil se tornou cada vez mais comum. Após alguns meses colaborando nas plataformas, decidi compartilhar as vantagens e desvantagens desse trabalho. No período, entrevistei algumas pessoas em postos de gasolina e elas contaram algumas de suas experiências boas e insatisfações. Nesta matéria, mostro um pouco do que presenciei em termos de ganhos, prejuízos e experiências dentro de um veículo atuando em Belém.
Ganhos e despesas
Comecei a usar os aplicativos em abril de 2025 e sigo até hoje. A média bruta chega a R$ 1.500,00 por semana (cerca de R$ 6.000,00 mensais). Porém, com os custos de combustível e as taxas cobradas pelos aplicativos, o ganho líquido varia entre R$ 2.500,00 e R$ 3.000,00 mensais.
Gastos de quem não possui veículo próprio
Para motoristas que não têm carro, os rendimentos são ainda menores. Muitos arcam com aluguel de veículos — que pode ultrapassar R$ 500,00 semanais — ou financiamentos que variam entre R$ 1.000,00 e R$ 3.000,00 por mês. Além disso, gasolina (no caso de carros a combustão) e taxas continuam sendo responsabilidade do trabalhador.
Alta e baixa demanda
Nos primeiros 15 dias do mês, a demanda costuma ser maior, já que os passageiros buscam transporte para trabalho, lazer e compras. Nessa fase, é possível alcançar lucros líquidos de R$ 300,00 a R$ 500,00 por dia, em jornadas de cerca de 12 horas.
Já no fim do mês, quando a procura diminui, os motoristas precisam “garimpar” corridas. Até mesmo nos fins de semana, torna-se difícil obter bons lucros.
Perigos da profissão
O motorista por aplicativo enfrenta riscos constantes, como assaltos, roubos de veículos e endividamento.
De acordo com reportagem do g1, publicada em julho, 92% dos motoristas entrevistados afirmaram estar endividados e, em 68% dos casos, as dívidas comprometem despesas básicas, como moradia, alimentação e contas domésticas. Além disso, 30% relataram pagar aluguel de veículo.
Outro problema frequente é a dependência de empréstimos, muitas vezes com agiotas. O fato de o motorista gerar renda diariamente dá a falsa impressão de segurança financeira. Porém, imprevistos como revisões, acidentes ou problemas mecânicos podem deixá-lo sem fonte de renda por dias ou até meses. Diferentemente dos trabalhadores com carteira assinada, o motorista de aplicativo não conta com benefícios trabalhistas.
Seguros veiculares
Além disso, diversos bancos não aceitam a cotação de seguros de veículos para quem atua como motorista por aplicativo. Com isso, a preocupação aumenta ainda mais com os riscos diários na rotina de um trabalhador do ramo.
Em um teste feito no mês de maio, o Banco do Brasil recusou realizar uma cotação de seguro veicular apenas pelo fato de o cliente informar que trabalha na plataforma para fazer uma renda extra.
O assistente do banco que conversou com o cliente disse: “infelizmente, em casos de sinistro, o seguro não cobre carros de motoristas por aplicativo.”
Jornada de trabalho
Ainda segundo o g1, um motorista por aplicativo trabalha, em média, mais de 52 horas semanais. Em capitais como São Paulo, essa carga pode chegar a 60 horas.
Entrevistas e críticas à plataforma
Em conversas em postos de combustíveis e redes sociais, alguns motoristas afirmam que as principais queixas estão relacionadas ao valor mínimo das corridas e às taxas cobradas. Atualmente, em Belém, o preço inicial é de R$ 5,80, mas a categoria defende que o valor mínimo deveria ser de R$ 10,00.
Outro ponto criticado é o sistema de avaliações, no qual o motorista não tem direito de defesa. Notas baixas ou reclamações podem impedir o acesso a campanhas e bonificações, além de gerar bloqueios temporários ou permanentes.
Pontos de apoio
Nos últimos meses, a Prefeitura de Belém propôs a criação de pontos de apoio para os motoristas por aplicativo, com banheiros e locais de descanso em alguns pontos estratégicos da cidade. Com isso, os motoristas poderiam ter uma ajuda a mais para alcançar as metas diárias.
Futuro
Entre altos e baixos, os motoristas destacam que a atividade segue como uma alternativa de renda, mas sem garantias de estabilidade. A categoria defende maior transparência das plataformas e uma regulamentação que traga condições mais justas para quem depende do trabalho diariamente.
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